Autor: Miguel Lucas
Todos nós, pontualmente temos
pensamentos e sentimentos negativos, certamente uns mais que outros,
portanto, é importante aprender a lidar com pensamentos e
sentimentos que nos perturbam. A chave para que esses pensamentos e
sentimentos negativos não nos incapacitem, não nos esmaguem ou não
condicionem os nossos estados de humor, é a capacidade que cada um de
nós tem para gerenciá-los corretamente.
A forma como pensamos acerca de nós
mesmos, das outras pessoas, e dos acontecimentos pode ter um impacto
importante sobre o nosso humor. Por exemplo, digamos que você
normalmente tem o pensamento: “Eu estou sempre deprimido.” Sempre que
esse pensamento aparece na sua cabeça, você provavelmente começará a
sentir-se triste e em baixo. O inverso também é verdadeiro. Se você
estiver sentindo-se ansioso e com medo, ficará mais propenso a ter
pensamentos que são consistentes com esse estado de humor.
O problema não está nos próprios
pensamentos ou sentimentos negativos que invadem a nossa mente. Os
pensamentos e sentimentos por vezes podem parecer ter vida própria, mas é
pura ilusão. Os nossos pensamentos e sentimentos não têm vida
própria, eles vivem em nós, manifestam-se em nós, sem que
necessariamente tenhamos que seguir ou agir de acordo com eles. Quantas
vezes você não seguiu o que estava a pensar ou a sentir? Provavelmente
muitas. Então o que é que o fez reorientar os seus pensamentos e
sentimentos? Arrisco a dizer que foi você, foi aquele que tem
consciência dos seus próprios pensamentos e sentimentos e que pode ou
não segui-los.
Dica: Muito provavelmente reorientou os seus pensamentos com base nos seus valores, nos seus objetivos, desejos e vontades.Sugestão: Oriente-se por aquilo que é, por aquilo que quer vir a ser, sentir, pensar e agir. Oriente-se conscientemente pelos seus valores e não necessariamente pelo que sente ou pensa. Os pensamentos são palavras na sua cabeça, os sentimentos são sensações físicas no seu corpo, se não lhe servirem não os siga.
Então, quer dizer que nós temos a
capacidade de não agirmos de acordo com alguns pensamentos e sentimentos
nossos? Completamente! Provavelmente todos nós fazemos isso mais vezes
do que temos consciência. No entanto, no que diz respeito aos
pensamentos e sentimentos negativos, confundimo-nos com eles, ou seja
dá-se um fenómeno de “fusão” entre os nossos pensamentos e
sentimentos e a nossa identidade, personalizamos o que pensamos e
sentimos colando-nos à nossa experiência interna. A partir daqui,
ilusoriamente julgamos ser o que pensamos e sentimos. Pior, julgamos não
ser capazes de gerar outros pensamentos e sentimentos mais positivos,
construtivos e capacitadores. Perante este cenário, ficamos à mercê de distorções do pensamento, dando origem a comportamentos não desejados podendo contribuir para o desenvolvimento de alguns problemas psicológicos e consequentemente problemas pessoais, constatando-se como um obstáculo ao desenvolvimento pessoal.
ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM PENSAMENTOS E SENTIMENTOS NEGATIVOS
Perante a intrusão inesperada e
angustiante de alguns pensamentos e sentimentos negativos e
perturbadores, pode ser muito útil pensarmos em nós mesmos como um
motorista de um autocarro (ónibus). Como se dirigíssemos o ónibus da
nossa vida. Nos bancos estão sentados vários tipos de passageiros, os
quais não controlamos. Os passageiros são os nossos pensamentos e
sentimentos. Às vezes eles podem ser um incómodo. Às vezes eles gritam
coisas como “Você é um motorista inútil”, ou “Você está indo na direção errada”, ou “Há muito barulho aqui à volta. Você deve parar e vir lidar com isto”,
ou toda uma série de outros pensamentos ou sentimentos potencialmente
perturbadores ou distrações da mente. Há pelo menos meia dúzia de
lições úteis que podem ser retiradas a partir desta metáfora do
motorista do ónibus.
A importância dos valores:
É extremamente importante para a nossa saúde e bem-estar que consigamos
focarmo-nos na condução do ónibus da nossa vida na direção certa. O
“caminho certo” é determinado pelos nossos valores, por aquilo que
realmente importa para nós. Os nossos valores são a bússola
de orientação que precisamos para guiar-nos. Os valores são coisas como “Eu quero viver com coragem e bondade”, ou “eu quero cuidar da minha saúde”, ou “eu quero priorizar aqueles que amo”, ou “eu quero desenvolver os meus interesses e talentos, tanto quanto eu conseguir “. Siga
aquilo que quer, mesmo que por vezes esteja a pensar e a sentir de
forma oposta. Oriente-se pela sua consciência. Sempre que os seus
pensamentos e sentimentos não estejam em concordância, analise-os,
avalie-os à luz dos seus valores.
Para aprofundar este assunto, pondere ler o artigo: Que tipo de pessoa você quer ser?
Distinguir os valores dos objetivos:
Geralmente é útil distinguir-se os valores dos objetivos. Os valores
podem considerar-se como a bússola que usamos para guiar-nos durante
toda a vida. Nós normalmente não damos prioridade aqueles que amamos por
um tempo limitado, ou cuidamos da nossa saúde por um tempo limitado. Os
nossos valores normalmente mantêm-se constantes no tempo, ainda que
possam mudar, mudam em espaços de tempo mais alargados. Os nossos
objetivos não são tão intemporais pela sua própria natureza. Os
objetivos são pontos ou marcos na nossa vida que dão significado aos
nossos valores. Os nossos objetivos são as realizações e feitos que
reforçam a grandeza dos nossos valores. Então, nós podemos querer
organizar uma festa de aniversário surpresa para o nosso parceiro ou
treinar para correr uma maratona porque são uma expressão dos nossos
valores. Assim que consigamos alcançar esses objetivos, vamos querer
estabelecer outros novos. É como dirigir orientado por uma bússola
(valores) e que de alguma forma à nossa frente vamos tentando
alcançar um marco (objetivo), talvez uma árvore ou um morro orienta-nos o
caminho por um tempo. Os valores são o caminho que percorremos, a
direção que tomamos na vida. Os objetivos são pontos de verificação da
viagem, são as realizações que efetuamos.
Para aprofundar este assunto, pondere ler o artigo: Como conseguir atingir objetivos na sua vida
Os valores não são sobre o futuro, são sobre o presente, hoje:
Esta forma de distinguir os valores dos objetivos de verificação, leva a
outra realização. Vivemos ou não vivemos os nossos valores, agora,
hoje. Os valores (ao contrário dos objetivos) não são um destino em que
estamos viajando na sua direção. Os valores são a forma como nós estamos
viajando, a maneira como fazemos o nosso caminho. Se os meus valores
fundamentais são viver com determinação e coragem, ou com amor e
bondade, esse é o sentido, do jeito que eu quero viajar. É como dizer “eu decidi viajar para o noroeste. Esta é a bússola que vou seguir.” Eu
posso começar a seguir a orientação dos meus valores agora. Se eu estou
dirigindo bem para noroeste agora, então eu estou fazendo isso. Não é
algo que eu tenho que esperar ou trabalhar. É agora.
Auto-definição pelos valores e não por objetivo/realizações:
Afortunadamente há uma boa evidência de que uma vida
rica, significativa e valorativa promove a resiliência em muitas
situações diferentes. Tal como expliquei no artigo: O lado oculto da felicidade.
Mindfulness (Atenção Plena) e lidar com os”passageiros” desordeiros.
Como comentei no início, estamos dirigindo o ónibus da nossa vida.
Temos vários tipos de passageiros, muitas vezes incontroláveis . Os
passageiros são os nossos pensamentos e sentimentos. Às vezes eles podem
ser um incómodo. Muitas vezes a nossa melhor estratégia é simplesmente
continuar a conduzir na direção dos nossos valores e objetivos. Alguns
dos passageiros que todos nós temos, por vezes nas nossas mentes, são ansiedade, medo, depressão, raiva e preocupação.
A Mindfulness aborda esses conteúdos mentais como a passagem do fluxo, o
ruído do tráfego, ou como folhas flutuantes que ficam para trás à
medida que vamos avançando na viagem. A nossa tarefa é escutar o ruído
da mente, deixar fluir. Portanto, a nossa tarefa é perceber que o ruído
mental (pensamentos e sentimentos negativos) são uma parte normal da
condição humana. Esses pensamentos e sentimentos são os
passageiros desordeiros, pejorativos e com diferentes percepções do
caminho a tomar. Mesmo com esse barulho atrás de nós, devemos guiar-nos
pelo nosso roteiro, pelo percursos que conscientemente traçámos para
nós. Devemos focar a nossa atenção plena no que importa, ou seja, nos
nossos valores e nas tarefas que nos propusemos.
Às vezes é útil ouvir um “passageiro do ónibus”:
Embora a melhor estratégia geralmente seja simplesmente ignorar as
mensagens dos passageiros e continuar fazendo “conscientemente” a
condução do autocarro em direcção aos nossos valores, às vezes pode
ser útil ouvir e responder à mensagem de um “passageiro”.
Exemplo 1: quando o
“passageiro” (o pensamento ou sentimento) repetidamente, grita na parte
de trás do ónibus pode ser devido a um trauma que tenhamos vivido. Nesta
situação, é bom manter a condução do autocarro em direcção aos nossos
valores, mas quando temos tempo, muitas vezes vale a pena parar para
“processar emocionalmente” as memórias incómodas e as imagens e
sentimentos inadequadamente associadas.
Exemplo 2: quando o
pensamento ou sentimento está levantando uma questão que necessita de
ser resolvida. Normalmente os sentimentos negativos alertam-nos para
algo que pode estar mal na nossa vida, que necessita da nossa atenção.
Se for o caso pode ser importante levar esse sentimento em consideração e
esquematizar uma estratégia para melhorar o nosso estado ou situação.
Mas se esse sentimento, origina um conjunto de pensamentos de
incapacidade ou depreciativos acerca de si mesmo, então, deve ser
colocado em causa.
Para aprofundar este assunto, pondere ler o artigo: Aprenda a gerir as sua emoções e a ter controlo na sua vida
METÁFORA COMO UM LEMBRETE
Muitas vezes pode ser útil, como um
lembrete, pensar na metáfora do motorista do ónibus quando estamos a
tentar seguir em frente com a atividade frenética da vida de cada dia, e
deparamo-nos com o incómodo de sentimentos e pensamentos muito
difíceis. Se pensarmos nos nossos pensamentos e sentimentos como
objetos, conseguimos perceber melhor a forma como estruturamos os nossos
pensamentos. Tentar perceber que não necessita ficar alarmado,
angustiado e incapacitado só porque alguns pensamentos negativos lhe
passam na mente. Você é uma identidade separada dos seus pensamentos e
sentimentos e como tal, eles podem e devem passar pelo filtro da sua
consciência. Não importa aquilo que pensa, o que importa é a forma como
lida com esses pensamentos, a importância, o peso e a orientação que
lhes dá. Isso sim, é importante para lidar de forma adequada com os seus
pensamentos e sentimentos mais incapacitantes.
Você não é os seus sentimentos, nem o
seus pensamentos, tal como não é aquilo que ouve, que vê, que sente, que
come. Você é aquele que experiencia tudo aquilo que o seu corpo está
preparado para experienciar. Você é aquele que usa as suas experiências
internas como informação, mas essa informação deve ser filtrada pela sua
consciência, pelos seus valores, objetivos e propósitos de vida. E, se
os “passageiros” incómodos da sua mente o perturbarem, foque-se nos seus
valores, foque-se na sua rota e nos marcos que quer atingir para levar
uma vida significativa.
Fonte: http://www.escolapsicologia.com/como-lidar-com-pensamentos-e-sentimentos-negativos/
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